quinta-feira, 9 de março de 2017

Alciene Ribeiro, antena da raça humana

        Ezra Pound, em ABC da Literatura (1934), afirma que "os artistas são as antenas da raça". Isso significa que os artistas são capazes de captar os fatos sociais - e reproduzi-los em sua arte - muito antes do público em geral. Tal percepção pode ser identificada em diversas peças artísticas e literárias, como no conto "Vinte anos de Amélia", de Alciene Ribeiro.

      Publicado em Eu choro do palhaço (1978), o conto narra a história de uma personagem que, após uma festa em comemoração aos vinte anos de casada, tem uma tomada de consciência acerca de sua situação e o papel desempenhado dentro da família, e decide buscar sua liberdade.

        Há dois dias, em 7 de março de 2017, o projeto Humans of New York postou a seguinte história:

Uma publicação compartilhada por Humans of New York (@humansofny) em
instagram: humansofny


"Depois de vinte anos de casamento, peguei meu marido me traindo e tive que deixá-lo. Mas honestamente gostaria de ter me divorciado muito antes. Por muito tempo eu estive me negando meu direito de ser um indivíduo. A família se tornou muito mais importante que meus sonhos. Eu tinha pequenas alegrias então: adquirir um carro novo, ter nosso aniversário de 20 anos de casados, quando meu filho entrou para a faculdade. Mas agora a intensidade é muito maior. Estou fazendo todas as coisas que eu amo fazer. Estudei nutrição e consegui um emprego no hospital. Eu compro o que eu quero. Eu assisto a desenhos animados. Eu nunca perco um filme do Shrek. Eu vou a concertos de orquestra uma vez por mês. E bem agora estou voltando de uma aula de finanças. Vou investir no mercado de ações e comprar uma casa na praia." (São Paulo, Brasil)

       A antena Alciene Ribeiro já captava, décadas antes do relato dessa humana de São Paulo, a busca de mulheres pela independência e pelo joie de vivre longe do casamento.

        Reproduzimos, abaixo, o conto "Vinte anos de Amélia":






Um comentário:

  1. Gostei muito desse conto, nele podemos sentir a sensibilidade da escritora, retratando fielmente o dia a dia desse ser maiúsculo chamado mulher.

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